Temos um time, como a Copa das Confederações comprovou. E, ao contrário de anos anteriores, não há nenhuma grande polêmica futebolística no ar. Nenhum muxoxo porque fulano ficou de fora ou sicrano foi vítima de injustiça histórica que culminará na humilhante derrota. A rigor, a finalização dos estádios e a infraestrutura das cidades-sede preocupam muito mais do que a convocação dos jogadores. Resta, portanto, enfrentar duas semanas de pasmaceira — entrecortada por um protesto aqui, outro ali — enquanto o leite ferve na panela.
Pois não vejo a hora de começar a peleja propriamente dita. Bola pro mato que o jogo é de campeonato, e de Copa do Mundo. E então engrossar o coro da minoria — 130 milhões contra o resto do mundo, reforçado pela turma disposta a remar na contramão — na torcida pelo hexacampeonato, com a disposição de trocar o melhor livro por um memorável Irã x Bósnia. Sim, porque há vida além da Seleção Brasileira, e nem sempre o embate mais interessante do campeonato acontece entre gigantes como Itália e Argentina.
Quem já assistiu a um Madureira x Olaria na Rua Bariri bem sabe quão tocante é ver aquele trombador, com quem a bola não quis papo durante toda a partida, deslizar de carrinho pelo barro, esticar a rede adversária e correr, com o joelho esfolado e sem pensar em departamento médico, em direção à torcida que comemora como se fosse o título do Brasileirão. Nesses jogos, à margem da exuberância óbvia que exalam os gigantes das quatro linhas, a beleza nasce justamente do precário — do uniforme mal desenhado, da bizarra furada do zagueiro, da magreza subnutrida do lateral, do esforço comovente do camisa dez em honrar o número ao qual legou o rei Pelé uma mística inequívoca.
Guardadas as devidas e muitas proporções, na Copa que se aproxima também teremos alguns anticlássicos por (falta de) excelência. Que venham, então, Espanha x Holanda, Alemanha x Portugal, Inglaterra x Uruguai, os confrontos de monta. Mas também Argélia x Coreia do Sul, Costa do Marfim x Grécia, Honduras x Suíça. Que venham as estrelas Neymar, Messi, Cristiano Ronaldo. E, a seu lado, os famosos ‘quem’. Craques absolutos e pernas-de-pau de pelada no Aterro, lado a lado.
Com a compreensão previamente rogada aos nossos amores, eles povoarão por um mês as telas das TVs e de nossa imaginação. É tempo de Copa do Mundo, meus caros. E duro — duro mesmo — será ficar um mês sem ver o Fluminense jogar.
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