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Com ou sem colarinho?

Com ou sem colarinho?


Um tanto redutor, sei disso, mas penso que o mundo se divide entre pessoas que pedem chope com colarinho ou sem colarinho. Os adeptos do colarinho valorizam a qualidade em detrimento da quantidade, como naquele velho e safadinho ditado que fala que o que importa não é o tamanho, mas o prazer que proporciona. Já a turma do sem colarinho quer saber é de otimizar a capacidade da tulipa. Abre mão da espuma para que caiba mais líquido no copo.

(Sim, há os que não bebem chope, mas esses estão fora da crônica, ok?)

Dizem os entendidos no assunto que o colarinho, composto essencialmente por partículas da bebida intercaladas com gás carbônico, é fundamental para controlar o gás da cerveja, preservar o sabor e também a temperatura. Embora leigo, acrescentaria o dado estético. Um chope realmente digno do nome imprescinde da espuma branca fazendo contraste com o amarelo, aquela perfeição de design.

No meu caso, gosto mesmo é do clássico schinit. Chope na caldeireta, com três a quatro dedos de colarinho, como o que é servido no Bar Brasil, ou no Adonis, ou no Adelos, só para ficarmos com três exemplos cariocas. Importante ressaltar: no schinit, cerveja e espuma saem da mesma chopeira. Nada de adicionar o colarinho depois, tática que vem sendo usada em alguns botecos e ganha adeptos a cada dia.

Há mais ou menos três anos, a questão foi parar nos tribunais. O Inmetro autuou a JIT Alimentos, sediada em Blumenau, por “inconsistência” na quantidade de bebida servida pela empresa, desconsiderando a espuma como parte do chope. A empresa recorreu e a desembargadora Maria Lúcia Luz Leiria lhe deu razão. “Ora, o chope sem colarinho não é chope, como conhecido nacionalmente”, afirmou a juíza em seu despacho, no qual argumenta que a espuma é, no fundo, o próprio produto cerveja, só que em estado distinto.

No domingo passado, almoçava num restaurante da Lapa quando o casal da mesa ao lado pediu dois chopes. “Sem colarinho!”, ele gritou para o garçom, que caminhava na direção do balcão. Em poucos minutos, vinha a bandeja com duas tulipas sem alma, flores mortas que ao descerem à mesa pareceram ainda mais desfalecidas, macambúzias.

“Deixa eles”, comentou Juliana, ao notar meu silencioso muxoxo. “É o gosto de cada um”.

“É o gosto de cada um”, concordei, e de imediato chamei o garçom e pedi mais um, na pressão, para compensar.


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