No dia 16 de maio de 2012, uma quarta-feira, fiz no Facebook curto comentário sobre a coluna do Francisco Bosco, publicada em O Globo naquela mesma data. Chico analisava em seu texto a reclamação, comum entre as mulheres cariocas, de que “falta homem no mercado”. “Difícil negar a pertinência da queixa”, argumentava ele, salientando que sempre tem amigas interessantes a apresentar, e quase nenhum amigo: “Ou já são casados, ou são gays, ou não guardam esse apreço pela ideia de uma relação amorosa, ou as amigas não consideram bons o suficiente”.
Minha observação no Facebook referia-se justamente a esse último item. Eu me perguntava no post se a insistência feminina na formulação de que “falta homem no mercado” não indicaria, no subtexto, uma falta de autocrítica por parte delas, as mulheres. Ou seja, se não haveria um descompasso entre as supostas qualidades vistas em si mesmas e as exigências quanto ao outro.
O post acumulou 176 comentários, transformando-se numa tensa arena de debate sobre o tema. A maioria quase absoluta das mulheres subscrevia o lamento evocado pelo Chico. Foi o caso de Olivia, por exemplo. “Embora não goste muito desse papo, é fato que depois dos 30 fica complicado mesmo”, escreveu ela, defendendo que muitos homens nessa faixa de idade vivem a síndrome de Peter Pan, insistindo na juventude eterna. Outras, como Áurea, ecoavam minha observação: “Há mulheres que fazem um check list para identificar seu ‘homem perfeito’”.
No time masculino, as opiniões não variaram tanto. “Essa ladainha de que está faltando homem é de um comodismo para as ‘senhouras’ que chega a ser engraçado”, criticou Vicente. Mais cáustico, Emiliano recorreu à ironia para fazer seu resumo da pendenga: “As mulheres não falam que homem é tudo igual? Então basta escolher qualquer um”.
A panela fervia quando um dos varões, o Anderson, decidiu puxar para o lado masculino o muxoxo das moças. “Fica um 0x0 porque um monte de mulheres que não resolvem o que querem da vida não dão chances aos caras legais – sim, eles existem!”. Bastou. Em poucos minutos, ele distribuía senhas e, embora não intencionalmente, desdizia o meu post. As candidatas, por sua vez, apresentavam credenciais. Mas, como em geral acontece no Facebook, a discussão foi morrendo à medida que os dias traziam novas urgências.
Passada mais ou menos semana, a caixa de comentários já abandonada, recebi a sinalização de mensagem nova no post. Era do Anderson. “A quem interessar possa: eu e Luise nos entendemos muito bem e estamos dando início a um relacionamento que vai colocar por terra muitas teorias formuladas neste tópico”.
Lembrei que, em um dos comentários, Luise concordara com o Anderson quanto ao empate no clássico jogo entre homens e mulheres. Mas não poderia imaginar que a partir desse elo aparentemente precário, e sem que os demais debatedores soubessem, os dois haviam passado da rede social para o email privado. E daí para o samba, a cerveja, a conversa ao vivo.
No sábado passado encontrei o casal. Era uma festa na casa da Luise para anunciar que o casamento será em novembro.
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