Embora sem muito brilho, os favoritos até agora têm feito a sua parte. Inglaterra e Itália venceram Equador e Austrália, os donos da casa passaram sem sustos pela Suécia e os hermanos – meus adversários de coração para uma suposta finalíssima sul-americana – fizeram valer a tradição da camisa no jogo contra o México. De nossa parte, apesar da insistência do Parreira em barrar Juninho Pernambucano, a expectativa é que também nos classifiquemos às quartas-de-final, derrotando Gana.
Tudo anda tão previsível que esta Copa parece espreitada por uma insidiosa alma botafoguense. Explico: o alvinegro é um torcedor essencialmente trágico. Quanto mais positivos são os prognósticos, quanto mais unanimidade houver com relação ao júbilo absoluto e definitivo, maior será seu assombro. O combustível da paixão pelo clube que escolheu para torcer alimenta-se desse pessimismo atávico, em que cada fracasso serve sobretudo como a confirmação de seus piores pressentimentos.
Uma semana antes das finais do último Estadual, favas contadíssimas contra o Madureira, encontrei um amigo, fiel representante da espécie, num bar em Copacabana. Tristonho, ele lamentava previamente pela derrota contra um pequeno. Confessei-lhe que, fiel ao bairro onde nasci, torceria pelo Tricolor Suburbano. Ponderei, contudo, que com sinceridade não acreditava que o alvinegro pudesse perder o título. “Se fosse um grande clássico, eu estaria confiante. Mas o Madureira… O Madureira… O campeonato já era, rapaz”, ele retrucou. Lapidar, a frase é uma síntese perfeita da ânima botafoguense.
A maré mansa em que corre a Copa me fez lembrar da conversa. Não houve grandes polêmicas quanto à convocação de nosso escrete. A preparação – excetuando-se a bolha e o bate-boca do ex-gordinho com o presidente – e a passagem pela primeira fase foram aparentemente tranqüilas, e as zebras não deram ainda as suas caras na competição. “Algo muito grave, portanto, está para acontecer”, decerto põe-se a pensar o meu amigo, enquanto se prepara para assistir ao jogo de hoje no mesmo lugar e com a mesma camisa que usou na decisão de 2002, contra a Alemanha.
Não há meios de sabermos se a seqüência da competição virá confirmar esse sentimento tão alvinegro. Esperemos, pois – e com as velas acesas, por precaução. Só não vale me acusar de estar secando. Afinal, o Botafogo foi campeão este ano, não foi?
Crônica publicada no blog Pentimento
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