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Contos de axé – 18 histórias inspiradas nos ...

Contos de axé – 18 histórias inspiradas nos arquétipos dos orixás

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  • EDITORA MALÊ
  • 2021
  • ISBN ‎6587746535
  • Português
  • Capa Tipo Brochura
  • 244 Páginas

Idealizado e organizado pelo escritor e jornalista carioca Marcelo Moutinho, Contos de Axé – 18 histórias inspiradas nos arquétipos dos orixás reúne textos inéditos de 18 escritores brasileiros oriundos de diferentes regiões do país.

“A partir dos contos criados com base na mitologia das religiões de matriz africana, a ideia é tentar iluminar uma cultura de admirável força alegórica que costuma ser ignorada no Brasil, embora seja tão definidora de nossa gênese”, afirma Moutinho.

O projeto ganha relevância em um contexto de recrudescimento da intolerância religiosa no Brasil. No texto de apresentação, o organizador do livro traz dados do aumento do número de denúncias de violações que consolidam o chamado racismo religioso.

Sobre a seleção dos autores, vale destacar, além da amplitude geográfica, a diversidade de raça, gênero, idade, estilo. Moutinho acrescenta que, também com relação ao domínio do tema, buscou a variedade, congregando escritores que têm ligação íntima com as religiões africanas e outros que realizaram sua primeira incursão na matéria para, a partir daí, imaginarem seus contos.

O elenco é composto por novos talentos, como Itamar Vieira Junior e Geovani Martins, e escritores consagrados como o compositor Nei Lopes, que soma mais de 40 títulos publicados. A escolha dos orixás coube aos próprios autores.

Jornalista, escritor, sociólogo e pesquisador da afrodescendência no Brasil, Muniz Sodré comentam, na orelha, que o livro parece dar voz a divindades negras. “Não dá para desfiar um a um os contos do volume, como se fossem contas de um rosário. Dá para anunciar o encantamento da leitura. São pequenas joias narrativas, em graus diversos de intensidade literária, que remetem a um universo de crenças e de pertencimento”, diz.

Além dos contos, o livro traz verbetes com informações básicas sobre cada orixá retratado e ilustrações do designer Tônio Gonzaga.

Anos atrás, na verdade, no século atrás, me empenhei na edição de um livro de “contos negros”, assinado por Deoscóredes M. dos Santos, caríssimo amigo, venerável Mestre Didi. Em formas simples, mas com o tom grave de quem revela o importante, ela narrava o que narra a comunidade litúrgica a partir do que se inscreve nas linhas secretas dos rituais. Autor e autoridade, ele não era um, era muitos.

Agora me deparo com estes “contos de axé”, que bem poderiam ter o mesmo nome dos relatos de Mestre Didi, mas são criações decididamente subjetivas, autorais. Se nos primeiros eram invisíveis o que se pressentia estar detrás, nestes de agora bem se veem as correlações entre o narrado e o fundo múltiplo das divindades negras. Mas em mim é análogo o impacto emocional e cognitivo das narrativas. Eu me pergunto: então a minha gente, a gente de santo, viva e morta, desperta e adormecida, está vindo livremente à voz pública?

Bem, a “barra” aqui fora continua pesada e sombria, mas essas vozes simplesmente precisam de se externar, tal e qual insistia Rilke em seus poemas tardios, ao dizer que o homem precisa e lança mão de “coisas sentidas” que o ajudam a suportar a vicissitude. Levadas ao plano do que transcende, essas coisas são transformadoras.

Não dá aqui para desfiar um a um os contos do volume, como se fossem contas de um rosário, nem é o lugar para destacar esse ou aquele autor. Dá para anunciar o encantamento da leitura. São pequenas joias narrativas, em graus diversos de intensidade literária, que remetem a um universo de crenças e de pertencimento. Contos de Axé, sim, muito que bem.

Muniz Sodré

‘Contos de axé’ marca posição política ao mostrar presença cotidiana da mitologia afro e reforçar conceitos do candomblé

Antologia com 18 narrativas inspiradas nos arquétipos dos orixás é organizada pelo por Marcelo Moutinho
Neste país cada vez mais racista e intolerante, é muito bem-vinda a antologia “Contos de Axé”, organizada pelo escritor Marcelo Moutinho. São 18 narrativas que têm como pano de fundo o poder do candomblé e sua presença no nosso cotidiano. Para entender sua graça, não é preciso ser iniciado em religiões de matriz africana. O único pré-requisito é gostar de literatura e ter a mente aberta — o que é, na prática, um pleonasmo.
Também é bom levar em conta que a cultura terrivelmente cristã que nos assola sufocou inúmeras crenças disponíveis no mercado da fé, sobretudo as politeístas. No caso do candomblé e afins, o ataque é ainda mais pesado devido à sua origem: povos escravizados, espécie de não-gente aos olhos colonizadores. Pura tirania. A mitologia afro é viva, tão viva que com frequência deixa o plano das ideias e ganha as ruas. E a maioria da gente nem percebe.

Os 18 autores presentes na coletânea, no entanto, sabem que não é bem assim que a banda toca. Trabalhando com os arquétipos dos orixás, eles trazem para nossos dias situações em que as divindades estão presentes não apenas como palavras (o que já é muito), mas como sujeitos determinantes das trajetórias de simples mortais.

Como convém a cada início de trabalho, o primeiro conto do livro reverencia os exus, divindades mensageiras que vigiam caminhos e levam oferendas do Aiê, este nosso mundinho banal, ao Orum, o mundo espiritual. É por isso que os encontramos já em “Crisálida”, de Gustavo Pacheco, autor do premiado “Alguns humanos” (Tinta da China, 2018), ajudando o narrador nas quebradas da vida —com direito a um sustinho brincalhão. Típico.

Cada conto da coletânea é precedido por um pequeno perfil do orixá retratado para que o leitor não iniciado possa identificar sua presença na narrativa. Facilita, porque nem sempre o contista vai nominá-las, como fez Nei Lopes em “Era um pássaro muito grande”. Diga-se que Nei é, ele mesmo, quase uma entidade que sabe tudo da cultura negra, com dezenas de livros publicados sobre o assunto e sambas obrigatórios nas rodas, como “Tia Eulália na xiba” (com outro gigante, Claudio Jorge). No seu conto, Nei apresenta Orumilá, “aquele que traça o destino”, e Elegbara, “o imprevisto”.

Na ordem de invocação dos orixás, Ogum é apresentado por Jeferson Tenório, outro nome de peso para a coletânea. O autor de “O avesso da pele”, obra que acaba de conquistar o Prêmio Jabuti de melhor romance do ano, mostra que a interação das divindades com os pobres mortais pode se manifestar também através de uma doença — sobretudo quando a vaidade desnorteada alimenta o preconceito.
“Batiputá”, de Socorro Acioli, é um achado. Ao falar de Oxóssi, o orixá das florestas, do sustento e das famílias, a escritora cearense narra a atração de uma jovem estudante por um professor de antropologia. Ela mistura candomblé com astrologia — o que parece estranho, mas a história é intrigante. A conferir.

Já a cantora Fabiana Cozza estreia como contista. Bela estreia, diga-se, ainda mais com a responsabilidade de retratar Xangô e seu empenho por justiça. Mostrou que sabe o que está fazendo — assim como Marcelino Freire (sempre sagaz), Itamar Vieira Junior (clássico), Luisa Geisler, Giovana Madalosso, Paula Gicovate, Juliana Leite…

A lista de contistas é extensa, mas registre-se que “Contos de Axé” marca uma posição política contra estes tempos abjetos. E reforça também um ponto sempre esquecido: bem ao contrário dos impolutos santos cristãos, os orixás são demasiadamente humanos. Eles dançam, distribuem amor e raiva. Têm energia, fazem guerras. Nesse mundo não tem pecado, não tem céu nem inferno, nem dízimo tem. Mais que isso, suas histórias reforçam conceitos fora de moda — tais como humildade, persistência e paciência. Essas características são fundamentais para o fortalecimento do axé. Não importa em que ponto você esteja na hierarquia do candomblé, sempre vale a pena pensar nisso.

Grandes nomes da literatura negra em ‘Contos de Axé – 18 Histórias Inspiradas nos Arquétipos dos Orixás’

Antologia inclui principais escritores contemporâneos, como Itamar Vieira Junior e Giovana Madalosso, que resgatam arquétipos das entidades de religiões de matriz africana e discutem a intolerância religiosa

Carlos Messias

Não causa espanto quando um jogador de futebol faz o sinal da cruz ao marcar um gol. Já quando o atacante Paulinho simbolizou o arco e flecha de Oxóssi, orixá caçador da floresta, após o gol da vitória contra a Alemanha na estreia da seleção nas Olimpíadas de Tóquio, estampou o noticiário nacional e foi alvo de racismo nas redes sociais, mostrando o misto de ignorância, medo, preconceito e ódio que ainda paira em torno da prática das religiões de matriz africana no Brasil.

A antologia Contos de Axé – 18 Histórias Inspiradas nos Arquétipos dos Orixás (editora Malaê), organizada pelo escritor e jornalista carioca Marcelo Moutinho, visa recuperar os arquétipos dessas entidades e jogar luz sobre a intolerância religiosa.

Ele diz que o plano inicial era um livro autoral, mas, frente à escalada dos ataques a terreiros de religiões como umbanda e candomblé nos últimos três anos, recrutou uma seleção de escritores – que inclui alguns dos contemporâneos mais celebrados – em caráter de urgência, cada qual com um conto inspirado em seu orixá de escolha.

Os contos acompanham um verbete com a descrição da respectiva entidade. “O ataque a uma religião faz um apagamento identitário dos símbolos, ritos e preceitos que formam uma cultura”, argumenta o organizador. “Estudamos mitologia grega na escola, mas não estudamos essas religiões. Isso precisa estar integrado ao nosso conhecimento geral, os orixás têm força literária, simbólica e arquetípica que vai além do misticismo”, defende Moutinho.

“A discriminação que as religiões sofrem é parte do racismo estrutural que domina a nossa sociedade. Daí a importância de iniciativas como a do livro que desmistifiquem e apresentem a prática religiosa como um dado sobre a história e a cosmovisão de uma comunidade inteira”, diz o soteropolitano Itamar Vieira Junior, autor do multipremiado Torto Arado (2019), que ultrapassou 100 mil exemplares vendidos, e do recente Doramar ou A Odisseia: Histórias, ambos pela Todavia.

A partir de um cenário idílico, o escritor representa como as entidades podem se manifestar através da natureza no conto A Devoção Sagrada de uma Semente, inspirado em Iroko, o orixá da paciência e da longevidade. “As religiões afro-brasileiras nos contam sobre os processos históricos da diáspora africana, e também da reinvenção da mítica África em terra brasileira”, aponta Itamar.

Em Contos de Axé, há também histórias que se passam em terreiros ou com referências explícitas a entidades religiosas, como Xangôs, que marca a estreia literária da cantora paulistana Fabiana Cozza. E outros, como Esmagar Plantas, de Giovana Madalosso, em que o orixá está implícito na história, como que norteando os passos da narradora – no caso, uma mulher com filho pequeno que apanha do marido.

“Conhecer melhor os orixás era um desejo que eu tinha há muito tempo. Me encantei com o fato de estar relacionado aos ciclos. Escrevi sobre a fé que precisamos para recomeçar nossa vida”, diz a autora, que acaba de lançar Suíte Tóquio (2020, Todavia), seu segundo romance, em Portugal.

“As religiões afro apresentam uma visão de mundo muito sofisticada, com uma sabedoria muito própria. E está aberta a qualquer pessoa”, diz o escritor, antropólogo e diplomata carioca Gustavo Pacheco, autor do livro de contos Alguns Humanos (Tinta da China, 2018). Em seu conto Crisália, o primeiro de Contos de Axé, Exu abre os caminhos para um casal de estudantes em viagem pelo sertão nordestino.

“Eu sou filho de Xangô”, continua Pacheco, “mas a figura e os arquétipos relacionados a Exu sempre me fascinaram muito. Mudanças de sorte muito abruptas costumam estar ligadas a ele, que é o orixá do movimento. Várias vezes vivi situações esdrúxulas em que olhei e falei: ‘Isso é Exu me dando um sacode’.”

Contos de Axé

Coletânea de contos traz histórias criadas a partir dos mitos dos orixás

Adriana Dória Matos

Conta-se que o aiê – o mundo – foi criado por uma mulher. Ou melhor, por uma energia feminina, Odudua, a contraparte de Oxalá. O deus supremo, Olorum, tinha incumbido a missão a Oxalá, mas como ele não completou o intento, coube a Odudua fazê-lo. Oxalá, por sua vez, criou os seres humanos, essa espécie predadora por natureza. Na hierarquia dos mitos primevos, temos também as grandes mães Nanã e Iemanjá: a primeira, a anciã que conhece os mistérios da vida e da morte, aquela que se forja na lama, no mangue; a segunda, a mãe de todas as cabeças, o ventre fértil de onde saem os filhos-peixes, sendo ela, possivelmente, a orixá mais conhecida e cultuada no Brasil.

Assim como outras mitologias, as africanas são riquíssimas e trazem narrativas fascinantes, quase sempre assentadas no desejo de orientar práticas religiosas, ética e autoconhecimento. Por isso, elas atravessam o tempo, são contadas e recontadas por várias gerações. A permanência desses mitos e suas narrativas cumpre também a função de apoiar sentidos de identidade e pertencimento, dando sustentação à afirmação cultural e étnica.

Nesse papel de promover a afirmação cultural, observamos uma assimetria na disseminação de histórias de mitos no Brasil. Percebemos aqui, por exemplo, a presença e a assimilação integral de mitos greco-romanos e mesmo nórdicos, isso sem falar na dominação religiosa judaico-cristã, que não deixa de se assentar em mitificação.

Em contrapartida, há desconhecimento, resistência e às vezes preconceito em relação aos mitos dos povos africanos – que foram escravizados no país – e dos ameríndios. Não demoramos a entender esta realidade como resultado da política de sujeição desses povos que, com a valorização de suas culturas e suas histórias, não se cumpriria com sucesso.

Daí a necessidade de iniciativas que se contraponham a essa tentativa de desvalorização e apagamento. Contos de axé (editora Malê, 2021, 224 pp) contribui de forma prazerosa para isso. Com organização do jornalista e escritor Marcelo Moutinho, a coletânea reúne 18 narrativas criadas a partir de histórias tradicionais e de características atribuídas a divindades do panteão de diferentes povos de África, que vieram a se cruzar, ou não, gerando várias outras narrativas, como é característico dos mitos. Mas o que é legal nesses contos é que eles realizam – ou pelo menos os mais bem-sucedidos deles – a atualização desses mitos. Ao mesmo tempo que fazem isso, eles preservam a força e o encantamento dos orixás.

Lama que cura, a história que Adil Araújo Lima conta a partir de Odudua, afirma o poder de criação, geração e transformação da mulher. E a escritora faz isso numa linguagem simples e evocativa. “Mãe Zia lia com os sentidos. Às vezes, ela agia como se tivesse fecundado a terra, soubesse dos seus segredos, como mãe atenta à vida descobre num piscar de olhos se o filho está mentindo. Certo dia, ela disse: a chuva desce, molha a terra e salva as plantações da morte certa; então deduziu o poder de cura dos males da vida humana com essa mistura – água de chuva e terra”, começa ela.

Essa personagem, assim como outras Mães que aparecem nas narrativas reunidas operam curas, acolhem e aconselham, podendo mesmo dar boas lições em seus inimigos, como ocorre em Ogum à beira-mar, de Jeferson Tenório, e Amor é Merthiolate e não band-aid, de Rodrigo Santos, este, numa história para Oxum.

Outra situação recorrente e já esperada nos enredos desses Contos de axé é a suspensão da realidade, o ingresso no encantado, a experiência mística. Nesse aspecto, há uma variedade ótima de humores, e aqui vale destacar os contos de Nei Lopes, Era um pássaro muito grande; Socorro Acioli, Batiputá; e Juliana Leite, Caderno de mergulho.

A história de Nei realiza um justiçamento (várias das narrativas trazem essa motivação), numa trama que tece habilmente um reconto para a divindade da adivinhação Orumilá à crítica social. Um certo mau-caráter chamado Fabinho da Grota, que havia sido salvo da morte por intervenção espiritual do Pai Arabá, vira evangélico e pretende, a mando do arquidiácono, “romper o pacto celebrado com as ‘entidades malévolas’”. Mas a investida é frustrada por intervenção de seres mágicos que atuam contra o candidato a pastor. “Quem traça o destino é Orumilá. Mas Elegbara, seu criado, também influi. Orumilá é o destino, e Elegbara é o acidente. Um é a certeza; e o outro é a surpresa, o imprevisto”, ensina o velho Arabá.

Encontros inesperados, sonhos e visões mágicas encadeiam a narrativa de Socorro Acioli, que é ligada ao ambiente e à atuação do caboclo Oxóssi, senhor das matas. Sendo uma história de amor, Batiputá é também uma manifestação de respeito à “encantaria ameríndia”.

Quando a gente lê Caderno de mergulho, de Juliana Leite, facilmente entra na viagem, ou meditação autodirigida, da personagem Iaiá, que trabalha empilhando frutas numa mercearia, mas que pratica mensalmente sua transcendência ao deitar no sofá, ligar o ventilador e tomar banho de Lua, mergulhando no mar profundo de sua imaginação sensual. Claro que estamos falando de uma filha de Iemanjá encantada pela voz da sua sereia interior.

Além dessas, há outras histórias bem-urdidas e interessantes, como a que Gustavo Pacheco escreveu para Exu (Crisálida), Itamar Vieira Júnior criou para Iroko (A devoção sagrada de uma semente) e Paula Gicovate, para Omolu (O menino que insistiu).

A maioria dos 18 contos é criativa no enredo e convencional na estrutura textual – linear e com pendor realista, mas alguns deles quebram positivamente esse padrão, trazendo uma prosa fragmentária, disruptiva e/ou poética. Chamam a atenção, neste sentido, Cara ou coroa, de Carlos Eduardo Pereira; Caçar, pescar, de Marcelino Freire; Xangôs, de Fabiana Cozza; e Homenagem ao professor, de Edimilson de Almeida Pereira.

Cozza é cantora e compositora, Edimilson, poeta. É provável que a prática de ambos na lírica tenha favorecido isso, mas é bonito ler “Mas como haveria de contrapor-se à superioridade do letramento, da canetada de alguém diplomado? O pensamento de regresso ao sertão da Serra da Canastra e às lâminas cristalinas do Velho Chico. Ali tudo era céu e livros vivos: joão-cipó, lagarto-teiú, curicaca, seriema, tamanduá-bandeira, veado-campeiro, o rasqueado da colher de pau no tacho de barro fazendo farinha, torrando café, as peneiras num caxixi separando as sementes da terra. Escola de menino era vereda”, numa das passagens de Xangôs.

Do mesmo modo, a linguagem de Edimilson vai encantando a gente, no seu texto para Oxalá. “Envelheci dentro da velhice: me dispersei como o fumo nos telhados. Desisti e me refiz nesse lugar onde o fim e o princípio lutam no mesmo umbigo” é uma frase que se soma em sua riqueza ao trecho: “As noites brancas, a ilha branca – o sol, esse legado de clareza: tudo me envolve, porque participei de tudo. Se um ramo de ora pro nobis se recorda de mim, quando tateia minha língua – se alguém acorda comigo no pensamento –, estou vivo”. E tem mais tantas outras dessas, numa história, por si só, cheia de revelação.

Enquanto as histórias de Fabiana e Edimilson enlevam, as de Marcelino (para Logun-Edé) e Carlos Eduardo (para os Ibêji) aterram, nos lembram as asperezas da vida, em estruturas textuais que emulam claramente seus argumentos.

Ainda vale mencionar, para finalizar, o recurso editorial bem-sucedido de oferecer pequenas biografias dos orixás ao início de cada conto, familiarizando os leitores com suas principais características. Além do texto, essas páginas são ilustradas com desenhos de Antonio Gonzaga, com as figuras de cada uma dessas divindades. Uma leitura que abre caminhos para conhecermos um tanto desses fabulosos orixás.

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