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Chama etílica

Chama etílica


“Quando menos se espera, chega o Natal”, dizia a frase de abertura da matéria entregue pelo estagiário ao editor do Caderno B em algum momento dos anos 70. O inusitado espanto do aprendiz diante da data há tanto instituída rendeu muitas gargalhadas na redação do saudoso Jornal do Brasil. Acabou por se tornar história clássica entre os jornalistas.

O episódio veio à mente nos dias que precediam o início dos Jogos Olímpicos. A cidade está tomada de referências – faixas, placas, outdoors –, voluntários passam para lá e para cá com mochilas às costas de seus uniformes em caqui, verde, amarelo, mas só agora parece que a ficha caiu. Quando menos se esperava, chegou a Olimpíada do Rio.

Para um fã do esporte, como eu, é hora, portanto, de se inteirar sobre as regras do badminton, da luta greco-romana, do rúgbi, entre outras modalidades pouco difundidas por aqui. As emissoras de rádio e TV já contrataram especialistas em cada prática. Imagino que, para os iniciados nas atividades esportivas menos populares, seja uma ótima oportunidade, sobretudo em tempos de carestia.

Dia desses me peguei tendo lições sobre a esgrima. Você, caro leitor, sabia que existem três categorias – florete, espada e sabre? Que os uniformes dos atletas trazem fios elétricos que registram os toques, informando à arbitragem? Aprendi tudo isso. Provavelmente, esquecerei em alguns meses.

Mas será impossível esquecer a ocasião em que o tal do espírito olímpico ganhou de vez sotaque carioca, a ponto de chiar na letra S. Foi sábado passado, em Copacabana. Um tour etílico em homenagem ao garçom que, madrugada após madrugada, atende (e atura) os boêmios ao balcão do Galeto Sat´s, na Rua Barata Ribeiro. O boa-praça Agnaldo. Com direito a tocha improvisada e hashtag: #agnaldoolímpico.

Partimos do Bip Bip e, ao som de sambas, marchinhas e gritos de “Fora, Temer”, percorremos onze botecos até chegar ao Sat’s. A cada parada, a tocha trocava de mão. E, claro, enchíamos novamente os copos. A condução ficou a cargo de figuras queridas na noite carioca, como os jornalistas Xico Sá, Álvaro Marechal, Graça Lago, Lúcio de Castro, o livreiro Rodrigo Ferrari e o taxista Manel, que costuma levar os assíduos frequentadores do Sat’s até suas casas em segurança, após as muitas saideiras.

Com direito a batedores da polícia, a marcha chegou ao clímax quando o homenageado recebeu a tocha alternativa e acendeu a churrasqueira do bar. “Agnaldo / Guerreiro / Do povo cachaceiro”, cantava a turma, os copos ao alto, feliz da vida.

“What is it?”, me perguntara um turista americano quando ainda cumpríamos o trajeto. Expliquei que se tratava de tributo bem-humorado ao garçom de um restaurante. Que havíamos feito campanha para que acendesse a pira olímpica ou participasse do revezamento da tocha e, não tendo sucesso, nos animamos a traçar um circuito paralelo. “But why?”, insistia.

Não compreendeu o sentido da festa. Mas o Comitê Rio 2016, sim. Logo após o tour, convidou Agnaldo, que na quinta conduziu a tocha oficial pela Avenida Nossa Senhora de Copacabana, sob aplausos de uma pequena multidão.


  1. Oi! Passando para de falar que te citei lá no meu blog! Espia lá http://bit.ly/2aI7Ts8
    Abraços!

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